Exportar manufaturados para a China

Não é aceitável a total ausência de manufaturados brasileiros em um comércio bilateral de US$ 100 bilhões. Mas a responsabilidade parece ser só nossa...

Em 2018 o comércio bilateral Brasil-China alcançou pela primeira vez a faixa de US$ 100 bilhões. As exportações somaram US$ 64,2 bilhões e as importações US$ 34,7 bilhões. Com isso o Brasil voltou a ter um grande superávit comercial com aquele país, da ordem de US$ 29,4 bilhões.
É um excelente resultado, principalmente por ser a China uma das maiores investidoras em nosso país, ou seja, além do ganho de divisas resultante do superávit comercial, registramos volumoso ingresso de divisas decorrente dos investimentos chineses em diferentes áreas da produção e do comércio.
Entretanto, um único ponto persiste como negativo nesse intercâmbio: a não participação de produtos manufaturados em nossas exportações. Em 2018 cerca de 82% das exportações brasileiras foram de apenas 3 produtos: minério de ferro, soja e petróleo, voltando a comprovar nossa competitividade em algumas áreas. A parcela restante também se restringe a produtos básicos ou semi-industrializados, como carnes e celulose, dentre outros.
As exportações brasileiras de manufaturados enfrentam hoje um quadro de grande adversidade: previsões de baixo crescimento ou até mesmo queda do comércio global, feitas por conceituados organismos internacionais,  recrudescimento de medidas protecionistas em diferentes países e regiões, severas dificuldades localizadas na América do Sul com a nova crise na Argentina, principal importadora de manufaturados brasileiros, já causando redução acentuada de nossas vendas. Persiste também a crise política e econômica da Venezuela. Em dez anos nossas exportações para aquele país caíram de US$ 5 bilhões para US$ 500 milhões.
Este quadro é sem dúvida bastante preocupante. Mas por outro lado temos um novo governo,  com uma nova equipe no comando do comércio exterior e da promoção comercial brasileira, fazendo deste um excelente momento para uma nova parceria com o setor privado. Pode agora ser tentada uma nova investida na China, talvez mais contundente, para vencer inibições ainda existentes.
Há vários anos o mercado consumidor da China vem registrando expansão. Mais de 50% da população vive hoje em áreas urbanas, principalmente em grandes cidades. São cerca de 1 bilhão de pessoas participando ativamente do mercado consumidor. É grande o número de países industrializados que já exportam suas manufaturas para a China, inclusive de alto valor agregado. Por outro lado, não existem informações sobre barreiras técnicas ou mesmo maiores dificuldades administrativas para o ingresso de manufaturados naquele país.
Um programa mais contundente de negociações e promoção comercial poderia trazer um novo alento para nossas exportações industriais, levando a uma maior presença do setor privado na China, certamente um dos mais promissores mercados consumidores de todo o mundo.
Ivan Ramalho.

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