A indústria brasileira e a Argentina

A pandemia causada pelo novo coronavirus está prejudicando bastante o comércio internacional. É inevitável uma acentuada queda neste ano e ainda persistem problemas anteriores, como o protecionismo, o conflito entre EUA e China, dentre outros.
Internamente, em virtude das medidas de isolamento social, muitos setores produtivos já apresentam forte contração de suas atividades. Um dos maiores prejudicados é o setor industrial, que no mês de março apresentou expressiva redução.
Além das dificuldades enfrentadas no mercado interno, é importante lembrar que a indústria brasileira continua  tendo como principal destino de suas exportações a Argentina, país que enfrenta severa crise econômica, agora agravada pela pandemia.
Nesta fase de acentuado desemprego, vale lembrar que alguns dos principais setores que exportam para a Argentina são intensivos na contratação de mão de obra,  como o setor automotivo, calçados, têxteis e confecções, eletrodomésticos, bens de capital, dentre outros. Como empregam milhares de trabalhadores e estão presentes em grande número de estados, é muito importante que seus produtos retornem ao mercado argentino após a crise.
Mas esse retorno vai exigir que nossos exportadores e negociadores estejam muito bem preparados, tendo em vista que certamente vai ocorrer em ambiente bastante modificado, tanto por razões econômicas como também políticas.
Este retorno também poderá ser prejudicado caso prosperem iniciativas no sentido de transformar o Mercosul em zona de livre comércio, para que os estados-membros possam negociar e concluir individualmente acordos internacionais. Caso isso ocorra, a Argentina poderá também fazê-lo individualmente, nesse caso ofertando produtos manufaturados que hoje importa majoritariamente do Brasil. Ou seja, setores industriais brasileiros poderão perder a vantagem tarifária que atualmente desfrutam naquele mercado.
Nesse sentido, são de grande importância iniciativas para a a promoção de conferências, seminários e mesas redondas, ainda que agora virtuais, organizados por diferentes associações e consultorias,  exatamente com o propósito de debater e levar seus participantes a conhecer mais a realidade argentina, as características específicas do nosso comércio bilateral e as compreensíveis preocupações dos argentinos com a manutenção do seu parque industrial.
Só com conhecimento, estratégia e muito empenho em futuras negociações,  a indústria brasileira  terá as condições necessárias para manter a presença de nossos manufaturados nesse que ainda é um dos nossos principais parceiros comerciais.
IR